Quando Deus o chamou em 2014, numa fatalidade que comoveu o País, o ex-governador Eduardo Campos partiu com a imagem de gestor ousado, inovador e moderno. Mais do que isso, que havia tirado o Estado da sarjeta, fazendo inveja ao Ceará e a Bahia, rivais na atração de investimentos. Na prática, não era bem assim. Eduardo não marqueteiro, mas como governava como tal.
Com a sua morte precoce, o Estado, que parecia bem, no rumo certo, foi se deteriorando. Tudo hoje, como bem disse, ontem, o cantor Alcymar Monteiro, é sinônimo de abandono. O Recife, por exemplo, perdeu a liderança do PIB regional para Fortaleza e Salvador, estando em terceira posição. Suape virou um elefante branco. Mais de 90% das frutas saídas de Petrolina via navio para o mercado internacional se dão pelo porto de Pecém, no Ceará.
Tudo porque são caríssimas as tarifas portuárias praticadas pelo porto pernambucano. O estaleiro, que seria uma das tábuas de salvação da economia, virou tempestade do Norte, só produzindo até agora um navio. É outro elefante branco. Milhares de trabalhadores treinados e contratados para produzir navios estão a ver navios, literalmente desempregados. A refinaria, que seria o carro-chefe da geração de renda e emprego, não anda. Aliás, anda, a passos de tartaruga.
Há muito, Recife não sabe o que é uma obra de infraestrutura. A cidade continua campeã em engarrafamento, suja, calçadas malcuidadas e com o simbólico bairro Antigo jogado às moscas. O Estado não tem estradas. De norte a sul, a começar pela BR-232, a mais movimentada, que Jarbas Vasconcelos construiu com o dinheiro da venda da Celpe, se trafega driblando buracos, colocando e vida em risco. Pernambuco também não tem segurança. A Região Metropolitana continua sanguinária como nos tempos do cangaço.
Na semana passada, ao botar o pé na estrada, constatei, mais uma vez, a cara do abandono do Interior. Em Fazenda Nova, o Parque Nilo Coelho de Esculturas Monumentais, uma das vitrines do turismo no passado, está coberto pela caatinga, sem receber um só visitante. Trata-se de um equipamento cultural fantástico. Enormes blocos de granito viraram esculturas de dois a sete metros, algumas chegando a 15 toneladas, 37 peças foram agrupadas por temas em nove setores, investimento de mais de R$ 2 milhões jogado fora.
Já ontem, postei no blog o retrato da sucata em que foi transformado o prédio histórico do bicentenário Diário de Pernambuco, um dos cartões postais do passado compondo a paisagem cultural da famosa e lendária Pracinha do Diário. Mário Quintana dizia que o que mata uma cidade não é o abandono. É o olhar de quem passa por ela indiferente, como os governantes insensíveis do Estado. Quando um patrimônio público é abandonado, a vizinhança é a solidão. A indiferença e o abandono, na verdade, causam danos irreversíveis à história e a cultura.
Sem perseguição – O novo partido que sairá da fusão entre PSL e DEM não será governista, segundo afirmou o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, que assumirá a função de secretário-geral da legenda em formação. Atual presidente do DEM, ele diz, no entanto, que a sigla "não criará constrangimentos" a filiados e diretórios que decidam apoiar o presidente Jair Bolsonaro. A postura é semelhante à do DEM hoje. Oficialmente, a sigla não integra a base aliada, mas tem dois ministros no governo (Onyx Lorenzoni e Tereza Cristina) e maioria das bancadas na Câmara e no Senado alinhada ao Palácio do Planalto.
Em faixa própria – Um dos objetivos da fusão – que deve criar uma das maiores legendas da atualidade – é lançar candidato próprio ao Palácio do Planalto em 2022. "A gente acha que nasce com musculatura suficiente para isso", afirmou. O dirigente partidário ressaltou que, apesar disso, os diretórios municipais e regionais da nova legenda ficarão livres para apoiar outros candidatos. "Ter candidatura própria a presidente não significa que a gente pretenda estabelecer qualquer tipo de constrangimento para as lideranças e figuras do partido que eventualmente em seus Estados tenham uma situação distinta da nacional", disse.
Ceará desconectado – Apesar de figurar entre os dez estados com os maiores acessos a computadores para alunos durante a pandemia do novo coronavírus, estudantes da rede pública no Ceará têm menos conectividade com a internet, segundo o IBGE. A disponibilidade de computadores e tablets no Estado é 60,8% para matriculados nas unidades públicas e 78,0% na rede particular. O levantamento mostra ainda que salas ou laboratórios de informática estavam disponíveis para 75,2% dos escolares, sendo 76,5% na rede pública e 66,2% na rede privada.
Nordeste ameaçado – O Governo Federal anunciou um projeto para reduzir os incentivos fiscais fornecidos à iniciativa privada nos próximos anos, criando um espaço maior para compensar os impactos no orçamento gerados pela crise da pandemia do novo coronavírus. Especialistas ponderam que a inciativa poderá reduzir o potencial de desenvolvimento regional no Norte e no Nordeste, elevando ainda mais a disparidade econômica. De acordo com o plano elaborado pela Receita Federal, a previsão é cortar mais de R$ 22 bilhões em gastos tributários, sendo R$ 15 bilhões cortados já no primeiro ano.
Renovação na bancada – Um dos maiores atacadistas do polo de confecções do Agreste, com negócios entre Santa Cruz do Capibaribe e Santa Catarina, o empresário Robson Ferreira, líder do movimento bolsonarista na região, deve disputar um mandato de deputado federal em 2022, com chances de se revelar na mais surpreendente novidade da eleição proporcional. Foi ele que liderou o grupo responsável pela organização da motociata pro-Bolsonaro, no último dia 4, saindo de Santa Cruz em direção a Caruaru, atraindo mais de 70 mil motociclistas.
CURTAS
VOLTA AOS ESTÁDIOS – Jogos de futebol profissional voltaram a ser realizados com público a partir de ontem em Pernambuco. Para todos os eventos esportivos, o Governo autorizou a presença de até 2,5 mil pessoas ou 20% da capacidade do local, o que for menor, desde que elas tenham sido vacinadas contra a Covid-19. Além disso, também foi ampliada a quantidade de pessoas em shows, eventos culturais, sociais e corporativos em todo o Estado, que podem receber até 2,5 mil pessoas ou 50% da capacidade total do local onde o evento deve ser realizado.
VACINA OBRIGATÓRIA – Reunidos virtualmente, os integrantes da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa aprovaram, ontem, por unanimidade a obrigatoriedade da vacinação contra a Covid-19 para todos os servidores efetivos ou que prestam serviço ao poder público estadual. A medida se estende a servidores, militares estaduais, contratados temporários, empregados de empresas estatais e prestadores de serviços e também se aplica aos outros poderes e órgãos estaduais, como Legislativo, Judiciário e Ministério Público.
Perguntar não ofende: Quem será, afinal, o candidato do PSB a governador de Pernambuco?