sexta-feira, 17 de julho de 2020

Três em cada dez pernambucanos entre 15 e 29 anos não estudam nem trabalham


Juliana Maria da Silva deixou a escola aos 16 anos, quando engravidou da filha. Na época, cursava a 6ª série do ensino fundamental através do programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). Hoje com 23 anos ela faz parte do grupo de pernambucanos que não estuda nem trabalha. De acordo com os dados da Pesquisa Anual por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) 2019, divulgados nessa quarta-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 29,9% da população com idade entre 15 e 29 anos estava na mesma situação de Juliana no ano passado.

Segundo o IBGE, 10% da população nessa faixa etária estudava e trabalhava em 2019. Outros 30,6% estudavam, mas não estavam ocupados. Entre as mulheres jovens, 36,8% não estavam ocupadas, nem estudando ou se qualificando em 2019, contra 22,7% dos homens jovens. Por outro lado, 21,9% das mulheres e 38,2% dos homens de 15 a 29 anos apenas trabalhavam e 31,9% das mulheres e 29,5% dos homens da mesma faixa etária apenas estudavam ou se qualificavam. Com relação a cor ou raça, 11,4% das pessoas brancas de 15 a 29 anos trabalhavam e estudavam, percentual maior do que entre as pessoas de cor preta ou parda (8,9%). Além disso, o percentual de pessoas pretas ou pardas que não estudavam e nem trabalhavam (31,6%) superou o de brancos (25,8%).
Juliana conta que tentou, mas nunca conseguiu uma oportunidade de primeiro emprego. "Sem estudo e sem nunca ter trabalhado é difícil, não tem chance. Eu quis voltar a trabalhar, mas com filho pequeno é ainda mais difícil", afirma. Para a gerente de planejamento e gestão do IBGE em Pernambuco Fernanda Estelita, esse é um dos fatores que influenciam para que três a cada dez jovens pernambucanos estejam no grupo dos que não estudam nem trabalham. "As mulheres deixam os estudos para cuidar dos filhos ou de algum parente doente ou idoso. Além disso, pode ser que não encontre creche, então falta assistência para que ela possa trabalhar", aponta.
Outra justificativa, segundo ela, é a evasão escolar. "No final do ensino fundamental, os números de evasão crescem. Devido à dificuldades financeiras, muitos jovens saem a procura de emprego e depois retomar os estudos acaba sendo difícil", explica. Vitor Roberto dos Santos, 19, largou a escola no 3º ano do ensino médio. "Perdi a vontade de ir para a escola. Estou esperando iniciar o próximo ano para voltar os estudos e tentar arrumar um emprego", conta ele, que perdeu o estágio em uma creche depois de abandonar a escola.
Para Fernanda Estelita, a falta de acesso à educação acaba gerando um ciclo. "As pessoas que têm menos acesso à educação têm menos alternativas de emprego e geração de renda. Isso se reflete nos filhos e as próximas gerações estarão incluídas na mesma lógica de desassistência social." JC

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