quinta-feira, 1 de abril de 2021

Pipoqueiro perde renda e tenta resistir à pandemia com 10 filhos

O som das risadas e pedidos de crianças apressadas durante entrada e saída das aulas deu lugar ao silêncio do quintal da casa de Herbert Lima dos Santos, o Beto, pipoqueiro de 39 anos que viu a vida financeira se transformar com a pandemia de covid-19.
A paralisação das aulas presenciais, determinada pelos governos municipal e estadual, como uma das estretégias de conter a disseminação do coronavírus, é a principal responsável pelo prejuízo. Sem estudantes e sem público de eventos, também suspensos, Santos, que tem 10 filhos e trabalha no ramo há 15 anos, viu sua renda zerar.
No começo os pais dos alunos que me conheciam me ajudavam com um alimento, uma cesta básica. O problema é que a pandemia continou, as ajudas, não.
Somente na família de Santos, outras 9 pessoas também vendiam pipocas na porta de colégios de Belo Horizonte. O faturamento de cada parente chegava a R$2.500. É o caso de Leila Lima de Souza, 56 anos, mãe do vendedor e pipoqueira há quatro décadas.
— O maior problema é que esse era o negócio de família. Nunca pensamos que uma coisa desse tipo [a pandemia] destruiria tudo que construímos há tantos anos. A gente gastava pouco com o material e ganhava um dinheirinho bom.
A realidade da família é a mesma de pelo menos 380 profissionais do ramo, segundo dados da  Associação de Pipoqueiros e do Sindicato dos Pipoqueiros da Grande BH. O número, no entanto, pode ser ainda maior: cerca de 1.600 vendedores de pipocas espalhados por BH, segundo os próprios profissionais que dizem que grande parte não se associa a entidades de representação.
Com 10 filhos em casa, a solução encontrada por Santos para minimizar prejuízos e evitar a fome da família, foi pedir à mãe para fazer bolos caseiros. Em uma rede social em que estão pais dos alunos de escolas onde atuava e moradores daquela região, ele posta fotos de produtos.
Bolos comuns, recheados, doces diversos e, agora, ovos de páscoa fazem parte do cardápio. Às quintas-feiras, Santos guarda todos os pedidos na bolsa de entregas e pedala por mais de uma hora, do bairro Juliana, em Venda Nova, até o bairro Santo Antônio, na região Centro-Sul da cidade. Lá, ele entrega nas casas e prédios dos clientes.

— Ainda assim não dá. Eu ganho comissão do que minha mãe faz. Agora, tá rendendo cerca de R$100 por semana. Minha mãe também lucra quase nada. Com a pipoca, o gasto era muito pequeno. Agora, pra fazer essas coisas, gasta farinha, ovo, chocolate, leite condensado, gás. É muito mais coisa", calcula.

Escolha difícil

Coma redução nos ganhos, a compra mensal da casa da família também mudou. A maior dificuldade para o pipoqueiro é ver os filhos, que têm idades entre 4 e 22 anos, pedirem por algo que, nesse momento, ele não pode comprar.

— Eu já tenho filhos grandes que trabalham, correm atrás. Um deles tá investindo em um canal de jogos no Youtube. Sabe, o que dói mesmo é ver os filhos pequenos da gente querendo as coisas. Um iogurte, por exemplo, eu não dou para os de 8 anos. Converso com eles e falo que o pequenininho, de 4 anos, sente mais vontade. É uma escolha que dói demais.

De acordo as Secretarias de Educação Municipal e Estadual, ainda não há previsão de retorno às aulas presenciais. R7


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