quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Crise financeira nos Correios se agrava e obriga governo Lula a bloquear gastos de ministérios

Jornal Nacional

A crise financeira nos Correios é gravíssima. Em 2025, a empresa será responsável por mais da metade do prejuízo previsto para todas as estatais federais.

É um rombo que não para de crescer e que vem se agravando. Dos últimos dez anos, os Correios tiveram prejuízo em cinco. Em 2024, o déficit dos Correios foi de mais de R$ 2,5 bilhões. No acumulado do primeiro semestre de 2025, o prejuízo passou de R$ 4 bilhões – e pode chegar a R$ 10 bilhões até o fim do ano, segundo um comunicado que a direção enviou aos funcionários. Na semana passada, o próprio governo federal dobrou a previsão de rombo dos Correios em 2025.

A empresa que já deteve metade do mercado de encomendas hoje responde por apenas um quarto dele porque não investiu o suficiente para concorrer com empresas mais modernas do setor.

A crise nos Correios afeta também as contas públicas. O governo federal previa que estatais federais teriam um déficit de R$ 6 bilhões em 2025. Mas, por causa dos Correios, a previsão agora é de um déficit de R$ 9 bilhões. Pelas regras fiscais, quando o rombo das estatais passa do limite estabelecido na meta, é preciso compensar em outras áreas. Por isso, o governo contingenciou R$ 3 bilhões em gastos dos ministérios.

O plano divulgado pelos Correios prevê demissão voluntária para reduzir em 10 mil o contingente de 83 mil empregados, venda de cerca de mil agências deficitárias e arrecadação de cerca de R$ 1,5 bilhão com a venda de imóveis. O plano prevê ainda a possibilidade de parcerias estratégicas, fusões e aquisições. Mas busca também empréstimos de R$ 20 bilhões.

“Os próprios Correios informam que 85% para mais desses pontos são deficitários, têm prejuízos. Então tem que fechar muitos desses pontos. É fundamental isso. Tem muito sombreamento de agências muito próximas em geral”, diz Márcio Holland, professor de Economia da FGV – SP.

A direção da estatal informa por nota que o plano de reestruturação tem foco em garantir sustentabilidade financeira, modernizar a operação e assegurar a continuidade dos serviços postais em todo o país.

Para alguns analistas, a importância dos Correios em um país com as dimensões e necessidades do Brasil é grande. Consideram a reestruturação fundamental, mas dizem que ela chega tarde e pode não ser suficiente. O economista alerta que, a essa altura, é essencial contar com ajuda da iniciativa privada, como já acontece em outros países.

“Qualquer empresa estatal, dependente ou não do Tesouro, precisa melhorar sua governança. Em alguns casos, como o dos Correios, essa governança só melhora quando entra o capital privado ali dentro. Então, os Correios precisam, sim, de uma parceria com o setor privado, em uma proporção a se discutir oportunamente, para reduzir esse inferência, essa intervenção toda, essa influência político-partidária que tem tido na administração desta empresa”, diz Márcio Holland.

“Você ter uma gestão eficiente, colocar pessoas altamente competentes para cuidar dos Correios. Isso já foi feito no Brasil e em outros tempos, com outras empresas, e funcionou perfeitamente bem. Podemos fazer agora para os Correios. Essa equipe profissional que assumiria os Correios agora por um período definido de um ano ou dois, essa equipe é que vai definir quais áreas dos Correios poderão ser privatizadas”, diz Paulo Feldmann.

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